sexta-feira, janeiro 26, 2007

Update!

Oi pessoal!

Com o longo silêncio, muitos pediram notícias...

A casa aqui em Angra encheu de gente! Assim, agora tenho gente para me escutar 24 hs, pra eu fazer o download de 3 semanas de idéias... portanto vocês podem imaginar que eu estou que nem cachorro quando a dona chega em casa!

De qualquer modo, esta semana ainda teremos novidades por aqui!

Beijo!!!!

sábado, janeiro 20, 2007

Tão perto e tão longe

E eram duas garotas. Gabriela e Angélica... não se chega mais perto de Deus do que isso. Gabriela e Angélica cresceram no campo, cultivadas como a mais rara das flores. Gabriela e Angélica estudaram, disputaram o mesmo amor, traíram-se. Gabriela e Angélica se separaram. Cada uma levou sua vida, esquecendo da irmã. Nunca mais se falaram. Aos 50, Gabriela iria morrer por um problema no rim, precisava de um transplante. Aos 50, Angélica morreu, e seu marido, seguindo seu desejo, doou seus órgãos. Por estes desígnios da vida, o rim foi parar em Gabriela. Salvou sua vida, um encaixe perfeito, diziam os médicos. Não se chega mais perto de Deus do que isso.

Diziam os médicos que Juliana não podia ter filhos. Ela insistiu com Julio, seu marido. Um dia Alexandre nasceu. Saudável, perfeito, apenas não enxergava. Pra quem não podia ter filhos, não se chega mais perto de Deus do que isso. Alexandre cresceu, feliz. Fez amigos, teve amores, frustrações, conquistas e pequenos momentos de felicidade, como qualquer um. Dizem até que amou, uma ou outra vez. Julio, quando mais velho, aprendeu a tocar violão. Sonho antigo, sabem como é. Um dia escreveu uma música sobre o pôr-do-sol. O pôr-do-sol era como os últimos momentos com uma amada. O pôr-do-sol era o último fio de esperança. O pôr-do-sol era cor-de-rosa. Alexandre chorou ao entender o que era cor-de-rosa. Não se chega mais perto de Deus do que isso.

Cor de rosa, azul, amarelo, verde... Pintar era a vida de Henrique. Pintar paredes. Se casou com Sônia, que era ainda mais pobre do que ele. Um dia Henrique juntou dinheiro e levou Sônia de olhos fechados para uma casa, tão bonita como ela sempre sonhara, mas nunca tivera. Não se chega mais perto de Deus do que isso. Henrique foi criado num orfanato, não tinha nem tia ou irmão que o visitasse. Se alguém lhe perguntasse o nome de um amigo, ele enrubesceria de vergonha enquanto girava o pescoço. Tampouco tivera namorada antes de Sônia. Sônia teve 12 irmãos. Em seu barraco faltou arroz e feijão. Carne então, nem se fale. Mas carinho nunca faltou, isso nunca. Muito menos solidariedade. E assim, graduada – com louvor - em vida em família, tudo sobre um lar a Henrique ensinou. Não se chega mais perto de Deus do que isso.

Ensinou durante toda sua vida, essa tinha sido sua sina. Professor desde os 16, pela salas de Geraldo passaram princesas e presidentes, ministros e burgueses. E também gente abandonada, garotos de rua, o filho da criada. Não se chega mais perto de Deus do que isso. Aos 70, sofreu um acidente. Perdeu a memória, perdeu o dinheiro, perdeu a cabeça. Foi parar num hospício. Não lembrava seu nome, mas sabia seus direitos. Foi abusado e mal-tratado. Assim como os colegas. Rebelou-se. Protestou. Rebelaram-se. Protestaram. Apareceu até a mídia. Não se faz milagre, mas as fotos publicadas mudaram aquele mundo. E viraram até um livro. Não se chega mais perto de Deus do que isso.

Um livro, foi assim que começou. Eu o abri e lá dentro encontrei histórias encantadoras, que encheram minha vida de vida. Não se chega mais perto de Deus do que isso. No outro dia, abri outro livro. Lá estavam mais histórias encantadoras. Lá encontrei ainda mais vida para minha vida. Não se chega mais perto de Deus do que isso. No dia seguinte, descobri que em uma folha em branco poderia escrever quantas histórias encantadoras eu quisesse. E, se eu tivesse sorte, poderia encher a vida de outras pessoas de vida. E eu não chegaria mais perto de Deus do que isso.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Emma Bovary c'est moi

Clássicos não são clássicos à toa. Mais de 150 anos (!) depois de ter sido escrito, Madame Bovary ainda é forte e simplesmente é impossível parar de ler depois das primeiras páginas. E dá para se imaginar o rebuliço de um livro deste após décadas e décadas de Romantismo...

Emma, a personagem principal, é um Dom Quixote do amor, leu romances em excesso e busca um amor cinematográfico (provavelmente, na época, um amor romanesco!?)... desses que a vida real não oferece... E sua busca é espirituosa, comovente, deprimente... e narrada com perfeição. Vejam aonde isso termina, e como Flaubert é sempre irônico e certeiro nas descrições...

“Depois o padre recitou o Miseratur e o Indulgentiam, molhou o polegar direito no óleo e começou a unção; primeiro sobre os olhos, que tanto tinham cobiçado todas as suntuosidades mundanas; depois sobre as narinas, gulosas de brisas tépidas e de perfumes amorosos; depois sobre a boca, que tanto se abrira para a mentira, que tanto gemera de orgulho e gritara de luxúria; depois sobre as mãos, que se deleitavam com os contatos suaves e, finalmente, na planta dos pés, outrora tão velozes quando corriam a saciar os desejos e que agora nunca mais tornariam a caminhar.”

Triste, mas perfeito...

Da série “Eu ADORO curiosidades”

  • A China tem mais de 160 (CENTO E SESSENTA) cidades com mais de um milhão de habitantes;
  • Sabem o TiVo, aquele aparelho nos EUA que permite às pessoas montarem sua própria grade programação da TV (você vai lá e coloca: hj às 20hs quero ver a novela das seis, às 21hs quero ver o jogo de ontem à noite e às 23hs o jornal nacional). Então... a maior audiência de todos os tempos do TiVo foi... com 180% de share (as pessoas viam e reviam infinitas vezes) o peitinho que a Janet Jackson pagou no Super Bowl de 2004!!!! Êêê sociedadezinha enrustida!

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Strange attractors

Ufa! Finalmente venci a Viagem ao Fim da Noite e posso voltar ao mundo dos normais. Grata sensação... Comecei a ler o Mundo é Plano, do Thomas Friedman. Basicamente a tese dele é de que pós-queda do socialismo uma série de forças (10 forças) começaram a atuar sobre o mundo e levá-lo a um grau de integração muito maior do que já vivemos em qualquer outro momento (daí o mundo, que é redondo, voltar a ser plano).

Eu ainda não comprei a idéia 100% não. Todo analista tem sempre a percepção de que o mundo à sua volta nunca mudou tanto quanto se está mudando naquele momento. É um viés natural. Mas eu ainda estou na terceira força... vamos ver se chego lá!

No entanto, um ponto me chamou a atenção. A segunda força, pro Friedman, é simbolizada pela abertura de capital do Netscape. Quem se lembra do Netscape? O Netscape foi o antecessor do Internet Explorer, e foi o programa que mais colaborou para popularizar a Internet. Todo site era visitado via Netscape e o programa era de graça para usuários domésticos.

Até aí tudo bem, mas o Friedman ressalta um ponto-chave. Até então, toda a rede comunicação global que se desenhava usava sistemas proprietários. O que isso quer dizer? Quer dizer que existe uma rede interna na Universidade do Texas, por exemplo, e dentro dela as pessoas podiam escrever e-mails, enviar páginas, etc... mas quem estava na Universidade do Texas não podia mandar um e-mail para Universidade de Tolouse, ou para um amigo que trabalhasse na Volkswagen, porque estas organizações usavam seus sistemas proprietários, que não conversavam com o sistema da Universidade do Texas.

Ou seja, você tinha uma imensa rede que não conversava entre si. Alguns cientistas criaram alguns protocolos de comunicação abertos – ninguém pagaria para usá-los - que procuravam se tornar padrões globais, que teriam que ser incorporados a todos os sistemas atuais e vindouros. Pra quem gosta de informática, estes protocolos são os famosos TCP/IP, HTML, POP, SMTP, FTP que cansamos de ver hoje por aí.

O que o Netscape fez? Para facilitar sua popularização, usou um destes protocolos abertos, o HTML, ao invés de usar um sistema proprietário. Como conquistou um share enorme de mercado, não houve alternativa para os concorrentes (Microsoft principalmente) que não fosse seguir este caminho... e assim estava aberta a trilha para que criássemos uma única grande rede global.

Talvez, se não fosse o Netscape, estaríamos até hoje vendo uma briga de sistemas proprietários, e o mundo estaria bem mais fragmentado. As corporações amam sistemas proprietários, pois geralmente aumentam os seus lucros. Essa briga sistema proprietário x sistema aberto é recorrente no mundo tecnológico, vide Betamax x VHS, Linux x Windows e diversos que ainda veremos...

Mas o que me fascina nessa história toda? Bom, a leitura que faço é que os processos de evolução tecnológica constituem sistemas regidos pela teoria do caos. A posição inicial de todos os fatores envolvidos na equação é fundamental para o resultado, mas observando-se a posição de todos os fatores não é possível determinar o resultado final da equação, isto é, mesmo conhecendo-se as tecnologias, os players por trás das tecnologias, as demandas do consumidor não é possível dizer de início como estará o mercado dentro de alguns anos.

A teoria do caos possui um conceito muito interessante, chamado de strange attractors. São elementos que num sistema caótico atuam como aglutinadores e ajudam a conduzir o sistema para um determinado resultado. Seria algo como um imã, numa mesa repleta de peças de metal. Nem todas irão em sua direção, mas ele acaba influenciando bastante o desenho final.

Pois quando os cientistas desenharam protocolos abertos para a Internet e o Netscape os adotou, estava criado um strange attractor que determinaria em muito a característica aberta de nossa NET. O Netscape acabou sendo vendido para a AOL – que não soube o que fazer com o monstrengo – mas o mundo estava mudado para sempre.

Ok, ok, Marco. E daí? Bom, primeiro e daí que eu acho isso muito interessante! Fascinante mesmo. Segundo, e daí que nossas vidas são um sistema caótico. Estamos aqui, na loucura do dia-a-dia, com contas a pagar, sonhos por concretizar, amigos para curtir e não temos a menor idéia do que seremos daqui 10, 20 anos... E todos, queiramos ou não, temos nossos strange attractors... Um sonho, um traço de personalidade, um medo... elementos que constantemente, mesmo que de maneira inconsciente, são decisivos para definir nosso futuro. Uma reflexão sincera sobre quais os nossos strange attractors pode oferecer muitas luzes sobre o que conquistamos e o que deixamos para trás, sobre o que achávamos que queríamos, mas jamais perseguimos de verdade. E, ainda mais importante, se o que nos aguarda pela frente é realmente aquilo que achamos que queremos ser...

terça-feira, janeiro 16, 2007

Música e volume

Às vezes, quando escuto música, coloco o volume bem alto, muito mais alto do que se o próprio cantor e sua banda estivessem ao vivo, aqui, do meu lado... Não é sempre que faço isso, mas quando acontece, me pergunto o porquê!

Acho que é porque não quero admirar a música, sua beleza, quero na verdade que os sentimentos que ela me transmite transcendam o esperado, o humano, e tomem conta de mim por inteiro, como um mantra...

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Viagem ao Fim da Noite

Quero falar de Truman Capote e de seu livro Bonequinha de luxo que terminei neste final de semana (nada absurdamente especial, mas uma escrita leve e cativante – o último conto Memória de Natal, é um achado!), quero falar do tempo chuvoso e frio de Angra no sábado e como ele o impele à depressão (os índices altíssimos de suicídio nos países escandinavos não se devem à vida pacata, mas ao CLIMA horroroso, tenho certeza!), quero falar do quão ótimo foi ter a Ma, amiga desde os idos gevenianos, neste final de semana aqui, discutindo comigo mil teorias de vida, impulsos, sonhos, quero falar do formigamento de vida, do desejo de fazer, dos mil planos, mas não consigo.

Só consigo pensar e ler Céline, Viagem ao Fim da Noite. NUNCA li nada tão bom. A cada 5, 6 páginas, invariavelmente há um achado, um momento em que a descrição da podridão, da desesperança da vida tangencia a perfeição. Um pouquinho:

“O que é pior é que a gente fica pensando como que no dia seguinte vai encontrar força suficiente para continuar a fazer o que fizemos na véspera e já há tanto tempo, onde é que encontraremos força para essa providências imbecis, esses mil projetos que não levam a nada, essas tentativas para sair da opressiva necessidade, tentativas que sempre abortam, e todas elas para que a gente se convença uma vez mais que o destino é invencível, que é preciso cair bem embaixo da muralha, toda noite, com a angústia desse dia seguinte, sempre mais precário, mais sórdido.

É a idade que está chegando talvez, a traidora, e nos ameaça com o pior. Já não temos muita música dentro de nós para fazer a vida dançar, é isso. Toda a juventude já foi morrer no fim do mundo no silêncio de verdade. E aonde ir lá fora, pergunto a vocês, quando não temos mais em nós a soma suficiente de delírio? A verdade é uma agonia que não acaba. A verdade deste mundo é a morte. É preciso escolher, morrer ou mentir. Eu, eu nunca pude me matar.

O melhor portanto era sair para rua, este pequeno suicídio.”

Vou à rua, fazer compras. Volto logo! Beijos!

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Facilitando...

Pra quem me xingou nesses últimos dias falando que nunca lembrava o nome do blog, criei um atalho que é tão fácil e tão feio que não dá pra esquecer!
É só escrever isso que cai aqui!
;)

A ilha

Quem me conhece sabe que tenho um quê meio estranho com o mar. Deve ser coisa de mineiro, essa distância toda que temos do oceano pode tudo, menos fazer bem. Somado todo o tempo que eu passei dentro da água salgada não deve dar para completar nem um semestre, mas mesmo assim me sinto um velho marujo, um rato do mar e das ondas, como se ele me devesse um respeito especial somente pela minha existência.

É óbvio que essa arrogância desmedida já rendeu caldos homéricos, ataques de desespero lá no fundo, onde não dá pé e a correnteza puxa, além de uma série de outros episódios que flutuam entre o ridículo e o divertido, agora que já passei por eles. Mas nada nunca tirou da minha cabeça que fui feito para o mar e ele para mim.

Por isso, não achei nada estranho quando comecei a olhar para a ilha aqui em frente e a sentir que ela retribuía meus olhares. No começo foi essa paquera à distância, não declarada, esse jogo de dissimulação que é o alimento do desejo. Mas o jogo foi avançando e tornando o encontro inevitável. E era óbvio que o passo de aproximação teria que ser meu.

Como uma paixão pré-adolescente que renasce mais tarde na vida (dessas de condomínio para quem é de São Paulo, ou da menina da rua debaixo, para quem é do interior), eu me lembrava vagamente de já ter explorado aquele território uma vez. Mas não tinha tanta certeza assim. E, fascinante, não me lembrava do seu gosto.

Comecei a ensaiar minha visita. Há uns dois dias, peguei o caiaque e depois do deprimente, quase comovente, episódio de tentar passar a zona de arrebentação, me pus a remar. No caminho, eu me perdia entre observações e dúvidas. Meus braços estão queimando muito? Nossa, devia ter trazido uma barrinha de cereal. Eu consigo chegar e voltar? Mas à medida que eu me aproximava e a possibilidade da conquista se tornava mais e mais factível, eu me sentia tomado por uma certeza inevitável: eu não me interessava por aportar naquela ilha.

Chegar ali, pela porta da frente, e pisar em sua pedra como tantos já fizeram? Não. Aquilo não era para mim. Eu precisava circundá-la. A face norte da ilha, virada aqui para a praia onde estou, era a velha moça sem encantos, que se deitou com todos e com ninguém. Eu queria a outra face, eu queria o sul inexplorado, escondido dos olhares diários de todos. Eu queria desvendar o mistério da face oculta e dormir para todo o sempre com a descoberta que seria só minha.

Absolutamente certo do que queria, dei meia volta com meu caiaque, tranqüilo de que amanhã voltaria e, aí sim, eu seria um homem completo. Dormi e, como não poderia deixar de ser, sonhei com a ilha. Um sonho estranho, em que ao invés do caiaque um arco-íris maravilhoso me levava à minha amada, e que ali eu ficava para o todo sempre banhado pela mais fresca das brisas enquanto comia frutos desconhecidos e imaginários.

O dia seguinte foi o dia da espera. A cada dez minutos olhava para o relógio, aguardando às quatro da tarde, quando eu partiria. É óbvio que às três e meia eu já estava no mar, mas a triste verdade, senhores, é que tremi. Quando comecei a circundar a ilha, e já via de relance a face sul, as ondas cresceram. Descobri que circundar a ilha implicava em deixar de navegar na baía protegida e enfrentar o alto-mar. Subindo e descendo em volumes de água que me tratavam como tratamos formigas e mosquitos, animais desprezíveis, secundários e minúsculos, engoli minha paixão e, humilhado, remei de volta para casa.

Dormi, como era de se prever, como o pior dos homens. Dormi pisoteado, destroçado em minha pequenez incapaz de vencer aquele que eu dominava, o mar. Tive pesadelos e, se não estivesse entre amigos, negaria até o fim que uma lágrima carregada de um misto de tristeza e vergonha rolou de meus olhos.

Mas a catarse da noite anterior me fez forte. Acordei convicto de minha posição de dominador. Eu remaria e circundaria a ilha, ora. Ela me pertencia, o mar me pertencia. Quem havia de me segurar? Forte como nunca e sob uma chuva fina, que embaçava os olhos e remexia as ondas, eu remei. Remei rápido como há tempos não fazia e antes mesmo que o medo pudesse tomar conta de mim, eu enfrentava as ondas com a segurança de quem não tem o que perder, ou de quem não vislumbra a possibilidade de derrota.

Em pouco tempo ela, a face sul, se desabrochava para mim, só para mim, balançando entre ondas que iam de encontro às pedras e voltavam com força, num balanço sensual. Aquela ilha era minha, só minha. Não me importava, ou eu até mesmo ignorava, que há quinze minutos eu vira um casal de barco descendo aqui. Não me importava que qualquer um poderia descer aqui a qualquer momento. Ela sussurrava em meus ouvidos sua paixão, sua virgindade; discorria sobre meu direito de posse e eu, como amante bobo e apaixonado, acreditava e com cara de anjo pedia para que ela repetisse. Não me importava que a ilha não constasse em mapas cartográficos simplesmente porque seu tamanho era ridículo, e que se alguém fizesse um mapa que contivesse as ilhas ridículas ela seria a primeira a ser anotada. Nada disso me importava. Ela era a minha descoberta, só minha.

Com os músculos relaxados, recém saído do êxtase, recomecei a remar lentamente. A chuva parava e as últimas gotas caíam sobre meu rosto enquanto eu terminava de rodeá-la em meu caminho de volta. Foi aí que enxerguei pela primeira vez uma ilha que se escondia atrás da minha amada, e por isso nunca a vira da praia. Intocada, inflamada, olhava para mim como uma garota de dezesseis anos prestes a se entregar pela primeira vez. Sua face norte já carregava um traço ou outro de vivência, mas eu podia imaginar com um desejo ardente o seu inocente sul inexplorado. De lá uma voz doce chamava meu nome e guiava meu caminho com um arco-íris de cores fortes e vibrantes. Não havia o que fazer. Mais uma vez me pus a remar.