segunda-feira, janeiro 08, 2007

As gonzo as it gets...

Medo e delírio em Uberaba – Uma noite de ano novo – Parte I

O melhor da festa é esperar pela festa!

- Um bobo anônimo qualquer


Quando percebi, já era ano-novo e eu não tinha a mínima idéia de para onde ir. Os cariocas com quem estive o ano passado me juraram de morte caso reaparecesse por lá. Todos os amigos com casa na praia vinham me evitando desde o verão passado, quando um caso de insolação extrema combinada com uma química poderosa fez de mim persona non grata do Guarujá à Marataízes. O Nordeste ensolarado também estava fora de questão: simplesmente eu não tinha grana para isso.

A idéia de passar a virada do ano completamente bêbado e sozinho, no inferno do verão mineiro, observando jovens imberbes e/ou barrigudos em ridículos chapéus de cowboy passando gritando com seus carros pelas ruas revirava meu estômago como a pior ressaca dos últimos anos. A este pensamento horrível se juntava a visão de garotinhas de 16 anos de idade em mini-saias dignas de suas primas de 22 (estas já com filhos) saindo para as festas, despedindo-se de seus pais como se fossem para o convento no qual receberiam educação.

Era hora de fazer algo. Urgente. Agenda telefônica. Quem pode me ajudar com esta porra? Hum, esse não. Não também. Opa, este cara é bom. Não vai me agüentar até a noite do ano novo, mas pode sobreviver pelo menos até lá. E é tão sozinho que também não deve ter aonde ir. Maravilha, está vindo para cá.

Organizar uma festa que traga algum divertimento é fácil. Comece arranjando um lugar que favoreça a baixaria. Cantos escuros, sofás largados, tudo ajuda a relembrar os convidados de seus instintos mais depravados. Em seguida, garanta um som suficientemente alto para as 3 primeiras horas. Este é o tempo para que os convivas migrem do estado de alerta total com que chegam à festa para o momento em que passam a conviver dentro de suas bolhas de ar, trajes de isolamento do mundo, onde empregam cada mísero resto de sobriedade em estabelecer uma conversa (não necessariamente falada) que leve a pessoa ao lado para a cama. Daí conclui-se que o terceiro e misericordioso ponto deste breve curso de festas 1.0 é entupir essa gente toda de bebida. Muita bebida. Se algum convidado for do tipo que bebe pouco, desafie-o a cada minuto, deboche de sua masculinidade e use qualquer tipo de truque sujo (vale até o uso de seringas) para deixá-lo alto. Se for alguém que não bebe, force. Será a diversão de todos, inclusive do (ex) abstêmio que será eternamente agradecido – e lembre-se de entorpecer também a namorada, evitando dor de cabeça para o coitado. Com muita bebida, até a questão do número de homens e mulheres se torna secundária. Poucas mulheres acarretarão no deprimente espetáculo de homens se tocando, como jovens tigres aprendendo a caçar com a mamãe... no começo fingirão que brigam, desferindo falsas patadas e unhando de leve os irmãozinhos... e quando a coisa pegar fogo, será brincadeira de gente grande e melhor do que qualquer show de fogos de artifício que se encontra em Copacabana.

Para nossa sorte, a questão do lugar estava imediatamente resolvida. Com a casa dos meus pais vazia era apenas uma questão de rearranjar os sofás (e qualquer rato de puteiro é o melhor dos decoradores neste momento), abrindo espaço para uma pista de dança e criando cantos que funcionariam como espaços paralelos, portas de entrada para a luxúria, a esbórnia e a depravação. O som também não era problema dos maiores. Bastaram um ou dois telefonemas para encontrarmos um desses idiotas que preenchem suas vidas patéticas turbinando o som de seu carro. Sempre me perguntei o que levava um ser humano, em princípio racional, a gastar o quase nada que tem com um som que a partir do volume 15 já se torna insuportável. A única resposta que já encontrei é a mais óbvia de todas: pau pequeno.

Aliás, pau pequeno deve ser a resposta para muita coisa que se passa nessa terra. Ou não teríamos nossas caixas de e-mail invadidas por tsunamis de En.large YoUr Penn.is messages todos os dias. Que espécie de trouxa clica num anúncio desses e alimenta esta indústria a me mandar mais e mais e-mails ainda no dia seguinte? Trouxas com pau pequeno e grandes sons em seus carros. Esse tipo de trouxa.

Mas essa brincadeira de organizar uma festa começava a me cansar e era hora de me preparar para a maratona. Os próximos 3 dias não seriam para amadores e eu, como amador no trato de situações-limite com sobriedade, ou apagava e mandava aquela porra toda as favas ou desmoronaria junto do jogo insuportável do você me convidou mas não convidou meu amigo, posso levar meus oito primos que virão de fora?, eu vou mas desde que a Fê não vá, você pode chamar o Lucas PELO AMOR DE DEUS, EU FICO TE DEVENDO MINHA VIDA e outros trastes repugnantes que escutaríamos nas próximas 72 ou 96 horas. Por isso foi com prazer que desenterrei do meu armário as sobras natalinas: duas caixas de Stolichnaya, duas tequilas brancas e 3 amarelas (daquelas que vem o verme dentro), umas 5 garrafas pela metade de Red Label (originalmente falsetas, mas trocadas por originais durante a festinha de família), umas 15 pílulas finíssimas (tomando com amigos as 15 gêmeas destas durante o feriado de novembro jurávamos ter sido abduzidos por alienígenas descendentes do Raul Seixas) e umas porcarias dadas pelo meu primo de 17 anos que misturadas com álcool fizeram o Tio Oliveira – ah, que cena – confessar que traíra a Tia Violeta com a cunhada antes do noivado.

Infelizmente não era tudo de que eu precisaria, mas ao menos eu me sentia confortável para o início dos preparativos. Na tarde daquele dia 29 minha casa na Santos Dumont, reduto de bacanas emergentes e aristocratas quebrados, se tornava pelos próximos 3 dias um bunker, munido de duas linhas telefônicas como metralhadoras anti-aéreas, acompanhadas de aparelhos e aparelhos de celular de cada filho da puta que eu conhecia naquela cidade e passava por lá para conferir os andamentos e convidar seus amigos.

O esquema da festa seria dos mais simples e mesmo um otário com um currículo mínimo na noite entenderia o funcionamento. Qualquer homem que entrasse nos domínios do bunker na noite do dia 31 pagaria trinta reais para beber o quanto pudesse. Qualquer mulher teria acesso ao mesmo, só que pagando cinco pilas. Só entrariam pessoas com nome na porta ou expressamente autorizadas por mim. Um brutamontes bestialmente inteligente – mas com cara de quem não compreenderia qualquer frase que usasse uma proparoxítona – controlaria a entrada. O truque estava em cobrar dos mais bêbados duas ou três vezes e, se possível, se deliciar com os comentários dos idiotas no outro dia de manhã: putz, como eu queimei grana naquele esquenta! O brutamontes ficaria com 50% do cobrado em excesso e eu esperava ganhar grana suficiente para tapar os buracos que a cocaína que despejei na privada durante a última bad trip criou no meu parco orçamento.

As metralhadoras anti-aéreas trabalharam como nunca naquela e nas tardes seguintes. Uma infinidade de Renatas, Camilas, Julianas e Fernandas confirmavam suas presenças, entremeadas por eventuais Josecleides, Iaras, Claudetes e, porque não, Beatrizes e Anas Bárbara. Cada nome confirmado exigia um shot e quando a lista atingiu a marca centenária, na madrugada do dia 30 para o 31, demos os trabalhos por encerrados, não por acharmos que estava bom, mas por puro esgotamento das agendas telefônicas e a mais absoluta necessidade de encontrarmos ainda naquela noite um colo que nos curasse de 3 dias de viagem astral e nos pusesse de pé para a provação que nos aguardava na noite seguinte.

5 comentários:

Anônimo disse...

Do caralho!
Markin c tá tirando umas boas metáforas da cartola! =]
braços

Anônimo disse...

Ficou dez cara, gostei do brutamontes da portaria, porte físico que está longe do nosso amigo Dudu. hahaha. Abraços!

Anônimo disse...

Quito, nada melhor para uma noite de insonia (minha novidade, agora!)... Fiquei entre o Mil e Uma Noites Vol1 (descansando aqui do lado) e o Alf Lailah Mineiro. Ta claro quem ganhou... Sabe q esse texto me lembrou vc morrendo de rir da minha cara nas cervejadas da GV, qdo eu tentava te falar alguma coisa e, segundo vc, eu ficava berrando com voz engracada... Ate hj evito conversar numa balada! Hahahaha.... Seiiiijiiiii!!!!

Marco disse...

Vi, sábia decisão essa de evitar conversar em balada. As pessoas mal sabem o bem que você está fazendo! ;)

Vamos ver se hoje bate a inspiração para a parte 2 dessa viagem de ano novo! Valeu! Beijitos!

Anônimo disse...

no eixo "lúxuria, esbórnia, boêmia e depravação" vc tá bem. me fisgou.
bjo

ps:"Os cariocas com quem estive o ano passado me juraram de morte caso reaparecesse por lá."...hahahaha
ainda bem que vc sabe.