quinta-feira, janeiro 18, 2007

Strange attractors

Ufa! Finalmente venci a Viagem ao Fim da Noite e posso voltar ao mundo dos normais. Grata sensação... Comecei a ler o Mundo é Plano, do Thomas Friedman. Basicamente a tese dele é de que pós-queda do socialismo uma série de forças (10 forças) começaram a atuar sobre o mundo e levá-lo a um grau de integração muito maior do que já vivemos em qualquer outro momento (daí o mundo, que é redondo, voltar a ser plano).

Eu ainda não comprei a idéia 100% não. Todo analista tem sempre a percepção de que o mundo à sua volta nunca mudou tanto quanto se está mudando naquele momento. É um viés natural. Mas eu ainda estou na terceira força... vamos ver se chego lá!

No entanto, um ponto me chamou a atenção. A segunda força, pro Friedman, é simbolizada pela abertura de capital do Netscape. Quem se lembra do Netscape? O Netscape foi o antecessor do Internet Explorer, e foi o programa que mais colaborou para popularizar a Internet. Todo site era visitado via Netscape e o programa era de graça para usuários domésticos.

Até aí tudo bem, mas o Friedman ressalta um ponto-chave. Até então, toda a rede comunicação global que se desenhava usava sistemas proprietários. O que isso quer dizer? Quer dizer que existe uma rede interna na Universidade do Texas, por exemplo, e dentro dela as pessoas podiam escrever e-mails, enviar páginas, etc... mas quem estava na Universidade do Texas não podia mandar um e-mail para Universidade de Tolouse, ou para um amigo que trabalhasse na Volkswagen, porque estas organizações usavam seus sistemas proprietários, que não conversavam com o sistema da Universidade do Texas.

Ou seja, você tinha uma imensa rede que não conversava entre si. Alguns cientistas criaram alguns protocolos de comunicação abertos – ninguém pagaria para usá-los - que procuravam se tornar padrões globais, que teriam que ser incorporados a todos os sistemas atuais e vindouros. Pra quem gosta de informática, estes protocolos são os famosos TCP/IP, HTML, POP, SMTP, FTP que cansamos de ver hoje por aí.

O que o Netscape fez? Para facilitar sua popularização, usou um destes protocolos abertos, o HTML, ao invés de usar um sistema proprietário. Como conquistou um share enorme de mercado, não houve alternativa para os concorrentes (Microsoft principalmente) que não fosse seguir este caminho... e assim estava aberta a trilha para que criássemos uma única grande rede global.

Talvez, se não fosse o Netscape, estaríamos até hoje vendo uma briga de sistemas proprietários, e o mundo estaria bem mais fragmentado. As corporações amam sistemas proprietários, pois geralmente aumentam os seus lucros. Essa briga sistema proprietário x sistema aberto é recorrente no mundo tecnológico, vide Betamax x VHS, Linux x Windows e diversos que ainda veremos...

Mas o que me fascina nessa história toda? Bom, a leitura que faço é que os processos de evolução tecnológica constituem sistemas regidos pela teoria do caos. A posição inicial de todos os fatores envolvidos na equação é fundamental para o resultado, mas observando-se a posição de todos os fatores não é possível determinar o resultado final da equação, isto é, mesmo conhecendo-se as tecnologias, os players por trás das tecnologias, as demandas do consumidor não é possível dizer de início como estará o mercado dentro de alguns anos.

A teoria do caos possui um conceito muito interessante, chamado de strange attractors. São elementos que num sistema caótico atuam como aglutinadores e ajudam a conduzir o sistema para um determinado resultado. Seria algo como um imã, numa mesa repleta de peças de metal. Nem todas irão em sua direção, mas ele acaba influenciando bastante o desenho final.

Pois quando os cientistas desenharam protocolos abertos para a Internet e o Netscape os adotou, estava criado um strange attractor que determinaria em muito a característica aberta de nossa NET. O Netscape acabou sendo vendido para a AOL – que não soube o que fazer com o monstrengo – mas o mundo estava mudado para sempre.

Ok, ok, Marco. E daí? Bom, primeiro e daí que eu acho isso muito interessante! Fascinante mesmo. Segundo, e daí que nossas vidas são um sistema caótico. Estamos aqui, na loucura do dia-a-dia, com contas a pagar, sonhos por concretizar, amigos para curtir e não temos a menor idéia do que seremos daqui 10, 20 anos... E todos, queiramos ou não, temos nossos strange attractors... Um sonho, um traço de personalidade, um medo... elementos que constantemente, mesmo que de maneira inconsciente, são decisivos para definir nosso futuro. Uma reflexão sincera sobre quais os nossos strange attractors pode oferecer muitas luzes sobre o que conquistamos e o que deixamos para trás, sobre o que achávamos que queríamos, mas jamais perseguimos de verdade. E, ainda mais importante, se o que nos aguarda pela frente é realmente aquilo que achamos que queremos ser...

2 comentários:

s disse...

como estávamos conversando hoje.. complicado é qdo existe mais de um "strange attractor" na vida... o risco é grande de ficar preso no emaranhado de forças e acabar, simplesmente, anulado, sem vetor, sem sair do lugar..

Anônimo disse...

concordo q vivemos na teoria do caos,e agrande bobagem e lutar a vida inteira para disciplinala e objetiva la para algum objetivo babaca q vc se consegue fica puto e pregunta pra que